Esta crónica falta de rentabilidade das empresas faz parte da ideologia mais ou menos oficial dos nossos poderes públicos decisores, que são lestos a colocar o respectivo ónus nas costas dos empresários – é disso exemplo a afirmação do Governador do Banco de Portugal no XXIV Encontro de Lisboa entre os bancos centrais dos países de língua portuguesa quando afirmou “As empresas portuguesas são, em média, mal geridas” (3).
Não acredito – vivemos, isso sim, numa sociedade que não valoriza o sucesso empresarial e o esforço que o origina, que não se organiza em torno da criação de condições para que ele ocorra mas que, pelo contrário, se afadiga a criar constrangimentos. Na maior parte dos casos os empresários não são os vilões incompetentes do discurso oficial (que se desculpa a si mesmo) mas os heróis que contra a burocracia, a prepotência e a desorganização persistem em criar valor para a sociedade.
Se a baixa produtividade das empresas pode ter explicações nos seus modelos de gestão, tê-las-á também certamente no excesso de zelo de entidades fiscalizadoras desligadas da realidade, quase sempre com atitudes mais repressivas do que pedagógicas; numa justiça lenta e pouco eficiente; no fraco desempenho de centros tecnológicos, mais preocupados em garantir posições e cargos do que em transferirem efectivas competências para os sectores que dizem representar; no excesso de regulação muitas vezes contraditória; na inoperância de organismos públicos criados para “apoiarem” a actividade empresarial.
Se se olhar um jornal ou ouvir um noticiário é gritante que as notícias são, quase sempre, centradas em como gastar recursos (subsídios para este, abonos para aquele) e não em como gerar novos recursos, vivemos numa sociedade que parece obcecada pela distribuição de uma riqueza que é cada vez mais escassa, mas que ao mesmo tempo pouco discute como a recriar.
A forma de colectivamente encararmos a actividade produtiva tem de mudar drástica e rapidamente. É uma questão de sobrevivência. É necessário compreendermos, enquanto sociedade, que as empresas conseguirão aumentar a sua rentabilidade no momento em que esse passar a ser um desígnio nacional. E por desígnio nacional queremos significar o empenho e alinhamento de todos na garantia da máxima eficiência nas suas actividades, colocando o foco na potenciação do desenvolvimento empresarial e não em quaisquer outras questões de ordem formal, ideológica ou de cálculo político.
1) CES – Centro de Estudos Sociais Laboratório Associado, Ed. Almedina, Junho 2014
2) jornaldenegocios.pt em 6 Outubro 2014
O presente texto foi inicialmente publicado no “Notícias da Airo”