A habituação, de que a história acima é um exemplo extremo, é uma componente muitas vezes desvalorizada na capacidade de um gestor avaliar fria e objectivamente o seu negócio. A habituação condiciona um tipo de miopia de gestão que faz com que se acabem por aceitar situações que de outra forma seriam recusadas.
Quando confrontado com um cenário que ultrapassa os limites auto-impostos ninguém tem dúvidas em recusá-lo, mas, se esse mesmo cenário for “construído”, de acordo com as circunstâncias e aos poucos, muitos gestores e decisores acabam por se deixar envolver a tal ponto que depois – olhando para trás – não conseguem perceber como se deixaram enredar e como, sem que se apercebessem exactamente quando, os limites inicialmente definidos há muito foram ultrapassados. Tal com a rã cozinham em fogo lento sem perceberem o aumento da temperatura.
Técnica e tecnologicamente as empresas são quase sempre capazes e competentes e estarem no negócio é disso a prova. Quando não se trata da introdução de novas competências (como, por exemplo, é o caso do desenvolvimento de novos processos e de acréscimo de competências) coloca-se muitas vezes em causa as reais vantagens que a contratação de um consultor pode trazer à organização – nada de mais errado. A constatação da existência do fenómeno da miopia de habituação vem demonstrar que a distância, a capacidade de “ver de fora”, de desmontar o cenário, de medir a “temperatura da água”, são vantagens imediatas que um elemento exterior, com a necessária experiência e conhecimento, traz à Organização, justificando muitas vezes, por si só a sua contratação.
O presente texto foi inicialmente publicado no “Notícias da Airo”